sábado, 22 de outubro de 2011

Mão na massa (ou na lama)

Quase sete meses no Japão, e já estou mais ou menos acostumado. Já tive oportunidade de conhecer vários lugares e ter experiências que levarei, com certeza, até o fim da vida.

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Na última postagem, comentei sobre a cidade de Ishinomaki. Estava indo para lá pela primeira vez, em Junho, após quase 3 meses do Grande Desastre da Costa Leste do Japão. As cenas eram chocantes: carros em cima de casas, casas tombadas desde a base, prédios pela metade, entre outras coisas. Lama do mar ainda cobria ruas e terrenos e, em algumas partes, ainda haviam grupos de busca por corpos: naquelas regiões, só era permitida a entrada das forças-tarefa. 

Carro sobre o telhado de um sobrado, na proximidade da costa.
Naquela missão, nos limitamos a limpar o lodo que cobria um centro comunitário local. Devido à presença de indústrias químicas na região portuária, junto com a lama carregada pela tsunami veio também uma grande carga de óleo. Passamos um fim de semana inteiro para remover aquele lodo oleoso e limpar o terreno, que também estava cheio de destroços de casas ao redor.

Aliás, talvez "destroços" não seja uma palavra muito adequada neste caso. Por várias vezes, encontramos objetos no meio da lama, carregados de outras casas, que - embora chamemos de destroços - são talvez a única memória existente de um passado que jamais voltará. Encontramos passaportes, roupas, álbuns de fotos, revistas em quadrinhos e vários brinquedos. De quem eram? Quem eram aquelas pessoas felizes na foto, na formatura do seu filhinho de 10 anos? Será que sobreviveram? Será que sofreram muito? São tantas as perguntas que martelam em nosso cérebro nesses momentos, e muitas vezes derramar uma lágrima é algo que ocorre quase que naturalmente.

Destroço? 
Quase sempre, o silêncio era a única resposta.

Ishinomaki foi a cidade com mais fatalidades: cerca de 3100 mortos e 2700 desaparecidos, na época em que fomos para lá. Frente a tanta destruição, é inevitável se sentir impotente; e ver as pessoas ao nosso redor correndo, reconstruindo suas casas e reestruturando suas vidas era o combustível que nos fazia trabalhar cada vez mais, embora cansados, para fazer pelo menos um pouco por eles.

Mesmo assim, era inevitável se sentir inútil no fim do dia.

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Por isso, participei como voluntário duas outras vezes, aproveitando as férias de Verão na Universidade - o que não foi exatamente a coisa mais inteligente a se fazer: o Verão aqui no Japão é exaustivamente quente. E úmido. E cheio de insetos. Mas era o tempo que eu tinha disponível, e era o tempo que eles precisavam de ajuda.

Voltei a Ishinomaki em meados de agosto, para - dessa vez - uma semana inteira de trabalho. Foi muito bom voltar a Ishinomaki e notar a diferença na cidade! As coisas já estavam, pouco a pouco, se ajeitando, e os serviços começavam a funcionar regularmente.

Nos primeiros dias, fomos recrutados para atuar em uma ilha pesqueira - também conhecida como Ilha dos Gatos, por existirem vários gatos que vivem no meio da natureza. É um lugar de beleza indescritível! Fica a mais ou menos uma hora de barco a partir do porto de Ishinomaki. Sua população é bem pequena: cerca de 60 casas apenas. Ficamos em uma pousada para turistas que, no momento, servia de base para grupos voluntários.


Ajudamos a limpar a costa, recolher redes de pesca e bóias que foram enroladas e soterradas sob a areia do mar. De frente para o mar havia uma casa recém construída, já com os acabamentos prontos - à exceção dos azulejos da sala de banho. A tsunami devastou tudo, tornando a casa inabitável. Porém, muitos dos materiais ainda podem ser reaproveitados - como o madeiramento do piso. Ajudamos a desmontar todo o piso dessa casa e separar as madeiras para uso posterior. (Aliás, o modo como as casas são construídas ali é fantástico! Se não me engano, haviam 4 camadas de piso, sendo uma delas recheada com isolante térmico. Desparafusar e despregar todas as peças de madeira deu um trabalho danado!)

Nos dias seguintes (um fim de semana), foi realizado o Festival de Ishinomaki. Foi uma das experiências mais impressionantes da minha vida. Talvez você se pergunte: "Fazer um festival, mesmo com tudo que aconteceu? Como assim?"

No Japão, os Festivais de Verão (Natsu Matsuri, 夏祭り) são super comuns. Normalmente é um momento de celebração, de alegria. No caso de Ishinomaki, o festival foi dividido em dois dias: o primeiro, à noite, foi uma celebração de despedida. Vários grupos de voluntários se uniram para preparar cerca de 10.000 lamparinas de papel, de várias cores, com uma vela dentro. Essas lamparinas se chamam Tourou. Fizemos 10.000, uma representando uma vítima do Desastre - não apenas em Ishinomaki, mas em toda região nordeste. Com ajuda dos pescadores, nos montamos em barcos e acendemos e soltamos uma por uma no leito do rio, à noite. O mesmo rio por onde a tsunami subiu e adentrou o continente.

Tourou

Fluindo. Algumas lamparinas afundavam no meio da corrente, outras prosseguiam o caminho até perdermos de vista. E assim é a vida, não é?

Existem tantos, mas tantos, significados por trás desse gesto. Enquanto lançávamos as lamparinas ao mar, sacerdotes entoavam cânticos e orações pelas vítimas. Alguns parentes estavam presentes e escreveram os nomes de seus entes perdidos nas lamparinas. Às vezes pegávamos uma dessas. Acendiamos, liamos o nome em voz alta, e desejávamos "boa viagem". No barco, o clima era de silêncio e contemplação. Um silêncio natural, daqueles que não precisamos forçar, e que só era quebrado quando outro time vinha de jangada trazer mais lamparinas para lançarmos. Fora de nós, o silêncio; dentro, um vazio imenso.


No dia seguinte, a mensagem era: "Vamo que vamo!" Na noite de domingo, demos adeus às vítimas no festival das lamparinas; na segunda-feira, era a vez de reforçar a mensagem de reconstrução. Várias barracas foram montadas nas praças principais, com apresentações musicais e venda de alimentos e artesanato para arrecadar mais fundos para a reconstrução da cidade. Nossa barraca ficou responsável por divulgar as atividades do grupo de voluntários da Nippon Zaidan, o Gakuvo, e por entreter as crianças! Fizemos várias brincadeiras, e foi realmente gratificante ver o sorriso abrindo nos rostos dos pais e avós que nos observavam, e às vezes até brincavam junto com as crianças.

Preparando o kingyo sukui (pescaria com rede fina)

Orquestra de alunas do Fundamental II de uma das escolas locais

Apresentação de dança típica com crianças de Ishinomaki
Mas nada das atividades do festival foram mais importantes e significativas que o Mikoshi. Mikoshi é um tipo de palanquim, no qual se instala um pequeno santuário Xintoísta. Voluntários carregam o enorme palanquim nos ombros, pulando e chacoalhando-o ao redor de um percurso pré-definido. Esse Mikoshi foi construído inteiramente a partir de escombros da Tsunami e, portanto, carrega ainda mais forte a imagem de reconstrução a partir da tragédia.

Mikoshi feito a partir de escombros.

Equipe do Gakuvo!

Mikoshi durante a procissão.
Muitas vezes, ouço críticas a respeito da religião japonesa, o Xintoísmo, por ser algo amorfo, pagão, cheio de deuses e sem o menor sentido. As pessoas às vezes rezam num templo Xintô e nem sabem quem é que está divinizado ali. Mas, em momentos como esse do Mikoshi, toda e qualquer crítica cai abaixo. É impossível não se sentir compelido a entrar no meio da multidão e gritar, e pular, e chorar com todos eles. Eu olhava ao meu redor e via senhorinhas chorando e sorrindo ao mesmo tempo, pais com os filhos nas costas pulando, gritando os gritos de incentivo ("Oisha! Sor'ya!"), e com lágrimas escorrendo pelo rosto. Naquele momento, todos éramos uma coisa só: não havia mais vítimas, não havia mais voluntários, não havia mais japoneses ou estrangeiros; não havia mais homens ou deuses. Havia apenas o que havia ali, ao redor daquele Omikoshi, naquela comunhão única. Jamais esquecerei.

Depois do fim da procissão, houve uma exibição de fogos de artifício (Hanabi 花火 - flores de fogo), e voltamos para nosso alojamento. Trabalhamos ainda no dia seguinte pela manhã cedo recolhendo o lixo do festival, limpando as ruas (junto com crianças de escolas locais). Aliás, vale comentar que praticamente não havia lixo algum nas ruas! O senso de educação do japonês é incrível.

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Antes de voltar para Tokyo, fomos a um sítio de pesca trabalhar mais um pouco. Fizemos sacos de areia para impedir que, na subida da maré, escombros fossem carregados para a cidade. Ishinomaki foi deslocada mais de um metro para dentro do mar e, como resultado disso, quando as marés sobem a água invade a pista beira-mar. Enquanto isso, as meninas iam preparando colares de conchas para o cultivo de ostras - principal atrativo da região. Ovas de ostras são depositadas em conchas e deixadas amadurecer por um ano, quando são - então - transferidas para outro tipo de conchas maiores. Ali, ficam mais pelo menos um ano até atingirem o ponto de colheita para comércio e alimentação.

Esses pontos pretos são bóias, sob as quais estão atadas vários colares de conchas com ovas de ostras.

Colares de conchas com ovas das ostras.

Ovas das ostras, em destaque. Apenas 10% das ovas depositadas costumam sobreviver.

Quando ocorreu a tsunami, todas as conchas, ostras, cordas e bóias foram carregadas terra adentro. Até hoje, aliás, é possível ver bóias e cordas penduradas nas árvores, no alto dos penhascos a beira-mar. Os pescadores ficaram extremamente desiludidos e desesperados, por perderem anos de trabalho. Ainda, os armazéns foram também devastados, de modo que as ovas de ostras também pareciam ter sido perdidas! Sem as ovas, era impossível recomeçar. Por sorte, durante uma das missões anteriores à nossa, eles encontraram uma caixa com ovas das ostras e puderam, então recomeçar o longo processo de cultivo. Parte dos colares de conchas foram recuperados e voltaram ao mar, mas uma boa quantidade deles perdeu totalmente a utilidade. O prejuízo para a indústria pesqueira local foi tremendo mas, mesmo assim, eles não desistiram e estão recomeçando tudo de novo. Já nos convidaram para voltar lá daqui 2 anos e comer ostras deliciosas! :))

Fizemos bastante coisa, mas mesmo assim ainda tem muito a ser feito.

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Por isso me voluntariei mais uma vez, para mais uma missão de uma semana em Setembro! Dessa vez, fomos a Karakuwa. Karakuwa também é uma cidade incrivelmente linda, como toda a região de Miyagi. Aliás, um dos poetas mais famosos do Japão, Bassho, escreveu uma vez que ali é a região mais bonita de todo o país. Eu não duvidaria.

Passamos nossa primeira noite em Karakuwa numa casa semi-destruída pelo tsunami: não tinha algumas das paredes, nem janelas, nem portas e muito menos luz elétrica. Chegamos lá por volta das 4h da madrugada, após 15 horas de viagem a partir de Tokyo. Em condições normais, a viagem levaria 9h - mas viajamos exatamente no dia que um dos tufões da estação chegou na terra firme. Saímos de Tokyo em meio à forte ventania e chuva, que pegamos em boa parte do caminho (o tufão seguiu na mesma direção que nós). Aliás, devido às más condições, a estrada expressa foi fechada, desviando todo o tráfego para pistas locais - afogando o trânsito. No meio daquela confusão toda, acabamos tendo o azar de colidir com um caminhão, e perdendo ainda mais tempo da viagem. Da minha janela, pude observar com certa dó o policial tentando tomar anotações da ocorrência enquanto tentava manter o equilíbrio sob os fortes ventos do tufão. É, profissão complicada.

Durante o primeiro dia, dormimos. Dormimos e mudamos para o novo alojamento, uma linda casa de três andares, que foi também lavada pelo tsunami. Equipes antes da nossa limparam a casa e a deixaram usável de novo, e os donos resolveram ceder-la para que nossas missões pudessem tem um local de alojamento.

O trabalho dessa vez foi bem mais pesado do que o que eu estava acostumado. Durante dois dias, separamos entulhos (madeira, vidro, cerâmica, concreto) de terrenos "limpos" (que já haviam sido previamente limpos por máquinas escavadeiras); e durante dois dias fomos preparar âncoras de pedras para uso dos pescadores. Preparamos e carregamos sacos de 60kg, centenas deles. 

Caminhão recolhendo as âncoras de pedra. No primeiro dia, tinha a máquina para ajudar, mas no segundo...
No segundo dia, enchemos os sacos e os carregamos no braço. Kung fu puro!

Âncoras de pedra, depois de prontas.

Enquanto escrevo isso, sinto umas contrações involuntárias nas costas - provavelmente lembranças das dores lombares depois de escavar o dia todo.

Foi um trabalho muito bom. Parece idiota, mas trabalho pesado dá sensação de trabalho árduo, recompensador. Uma das coisas que mais me impressionou nessa missão foi ter conversado com um dos pescadores durante o primeiro dia de preparo dos sacos de pedra. Quer dizer, não foi exatamente uma conversa, mas foi muito bom. Era um senhor de 60 e tantos anos. Veio me perguntar de onde eu era e, quando respondi, ele abriu um sorriso e começou a conversar comigo. Veja bem, japonês não é um idioma em que eu possa dizer que me comunico muito eficientemente (ainda). O senhor é do interior do interior (uma cidadezinha de pouco mais de 3000 habitantes, numa das regiões menos populosas do Japão) e, por consequência, tem um sotaque bem carregado. Além disso, é um pescador; e todos sabem que pescadores têm quase que um dialeto próprio. Some a isso o fato de ele ser um senhor de idade: segundo meus amigos, "jiichans" têm uma capacidade incrível de falar enroladamente. Bem, talvez dê pra ter uma noção de que a conversa foi mais um monólogo do que um diálogo. 

Em linhas gerais (ou na medida em que pude entender), ele falava o quanto eu era abençoado por ser brasileiro. O Brasil é um país lindo, onde não há terremotos, não há tsunamis, e as pessoas não precisam constantemente reconstruir todas suas vidas do zero, como ele estava ali fazendo naquele momento. "Os japoneses são muito inteligentes," disse ele. "Souberam enxergar isso no Brasil e, por isso, muitos foram para lá. Foram para lá e nunca mais voltaram, porque perceberam o quanto o Brasil é um país rico e maravilhoso." Ele me olhava nos olhos e dizia que estava feliz por eu ter ido lá, praquela pequena cidadezinha, ajudá-los. E disse para eu olhar bem ao meu redor, e guardar bem tudo aquilo que eu visse, para reconhecer o quanto meu país é abençoado. :)))

E eu não poderia concordar mais!



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Bem, por hoje é só. Para quem tiver vontade de participar do programa de voluntariado, fique de olho nos updates da Nikkey Youth, e sigam a página deles no Facebook! :)

São pessoas sérias e comprometidas no que fazem. Vale realmente a pena se alistar. Escrevi um post imenso, mas não dá pra passar nem 1/10 de tudo aquilo que eu poderia falar sobre as missões e sobre como elas mudaram minha vida. Só experimentando para saber.

Termino o post com algumas fotos da maravilha natural de Tohoku :)

Até!







Para mais fotos das missões, veja meu álbum do Flickr, e os álbuns do Facebook do Batch 6, Batch 11 e Batch 15! :) 


sexta-feira, 3 de junho de 2011

Nihon!

Quase 2 meses. Ainda faltam alguns dias, mas já fazem praticamente dois meses que estou aqui. No momento, estou em um ônibus, cruzando o meio do Japão a caminho da cidade de Ishinomaki (na província de Miyagi).

Ishinomaki foi uma das cidades mais afetadas pelo Tsunami de março. Três meses se passaram e ainda há muito a ser feito. Haviam indústrias de petróleo na região, então além de muita lama e escombros, há óleo por todo canto. Estamos indo num grupo de 26 pessoas, estrangeiros e japoneses, ajudar no processo de limpeza.

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A vida em Tokyo está muito boa! O curso de Japonês faz jus ao adjetivo "intensivo". Essa semana terminamos um livro de 25 capítulos! A prova foi ontem. Tensíssima. O japonês vai entrando aos poucos na cabeça, como todo novo idioma. Às vezes, quando preciso escrever algo em inglês, me vem a frase em japonês! Não sei se isso é bom ou ruim...

As atividades no laboratório tb já começaram. Toda terça-feira fazemos uma reunião de estudo (輪講), e sempre temos que traduzir um capítulo de um livro, do inglês para o japonês. Como sou o único gaikokujin do grupo, eles me deixam com uma parte menor do texto (ainda bem!). Além disso, toda quinta-feira temos seminários. Essa semana já devo começar os experimentos no laboratório, e pretendo ajudar o outro aluno (meu tutor) a escrever o trabalho dele também :)

Anteontem chegou minha bicicleta! Ter bicicletas por aqui é algo bem comum. Meu prédio tem um estacionamento enoooorme pra bicicletas! É um meio de transporte barato, prático e saudável. Aliás, é comum encontrar bicicletas paradas perto das estações sem cadeado algum. Três coisas que se tem de graça aqui: água, segurança e educação.

Bom, por ora that's all!
:)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Nihon!


Hey,

Hoje faz uma semana que cheguei aqui em Tóquio! Dizem que cheguei na melhor época, a primavera. Já fui super bem-recebido pelas sakuras do Tokyo Tech


Nos primeiros dias o frio estava bem intenso, mas com o passar da semana o tempo foi mudando e hoje já deu pra ficar de camiseta durante o comecinho da tarde (mas a noite a temperatura caiu bruscamente com a chuva).

As primeiras impressões não podiam ser outras senão "uaaau!" Tudo aqui é intenso, desde o tamanho dos prédios, até a limpeza dos trens. As pessoas se vestem super bem (me sinto um mendigo perto delas!), e a moda aqui é roupa SUPER colorida. Pessoas com calça vermelha, roxa, camisas xadrez verdes, etc. Nos centros comerciais (shibuya, akihabara, ginza) os letreiros berram por si sós, e olhe que nem precisa de luz pra isso! Aqui é um paraíso de compras, e um inferno para os consumistas: o dinheiro vai embora como água.

Desde que cheguei aqui senti 2 tremores de terra fortes, reflexos dos que atingiram as regiões de fukushima e ibaraki. Ambos foram grau 4 shindo. No primeiro, eu estava no meu alojamento, em odaiba, dormindo (acabei acordando com o tremor e fiquei WOW!); no segundo (hoje), eu estava no laboratório conversando com o pessoal. Os japoneses ficam bem tranquilos nessa situação: me disseram que, se ficasse perigoso, eu deveria entrar debaixo da mesa. Se ficasse MUITO feia a situação, era para sair engatinhando pela porta.

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(continua...)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Águas de Março

Olá,

Infelizmente este é um post triste. Essa semana, dia 11 de março, às 14h46 (horário do Japão) a costa pacífica do Japão tremeu. O terremoto registrou 9.0 pontos na escala Richter, e ocorreu a 130 km da costa da região de Tohoku, a 24 km de profundidade. O ponto mais forte atingido foi na cidade de Kurihara (província de Miyagi), com 7 pontos na escala japonesa (o máximo).


O maior problema não foi o terremoto, mas a tsunami que veio depois dele. A tsunami varreu a costa especialmente de Miyagi, a província que mais sofreu com nesse episódio todo. Metade de Sendai - uma das maiores cidades do Japão - foi literalmente "washed away".


A tsunami chegou a ser sentida até na costa pacífica dos EUA, e penetrou 5 km em terras japonesas.

Depois disso, houveram várias réplicas que, aliás, ainda estão ocorrendo. Segundo a Agência Meteorológica do Japão, devem ser sentidas réplicas até além do dia 19 de março. Até o momento, 2500 mortes estão confirmadas - mas o numero deve chegar a 10000 em Miyagi.

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Com tudo isso, fica difícil não se preocupar com a ida do Japão. As dúvidas surgem se a bolsa ainda será fornecida mas, aparentemente, tudo continua conforme o planejado. Recebi hoje um email do consulado com as datas da viagem: partida dia 2 de abril, às 18h25 e chegada em Tokyo dia 4 às 7h40.

Por ora, é só esperar e torcer pra tudo se normalize no Japão.



quarta-feira, 2 de março de 2011

日本語はどうですか.

Hoje recebi mais um email da Tokyo Tech, dessa vez sobre o curso de japonês. Era um convite para fazer o teste de nível, online. Fui lá fazer a prova e, amigo, estava difícil! Acho que era pra selecionar entre o nível 1, 2 e 3 (o que quer que isso signifique). Imagino que essa era a turma mais fácil, porque todos os kanjis vinham com a leitura em hiragana...

Enfim, fiz as 100 questões em 30 minutos; mas não faço idéia de quanto acertei (pois não tinha gabarito).

Bom, agora é só esperar! =)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Aprovação final


こんにちは!

Bom, essa semana chegou o email da aprovação final do MEXT. O que significa que o consulado recebeu a notificação oficial do governo japonês que fomos aprovados. Yeah!


Agora podemos oficialmente aplicar para o visto. Para isso, é preciso levar assinado o termo de compromisso da bolsa, o formulário de pedido do visto, o passaporte e uma foto 3 x 4. Até sexta que vem (4/Mar). Vamo que vamo!!

sábado, 29 de janeiro de 2011

O alojamento


Eis que, no final da última semana de janeiro, recebo um email da secretaria de alunos (ou algo do tipo) da Tokyo Tech sobre o alojamento. Dos bolsistas monbukagakusho desse ano, os primeiros a receberem a confirmação da aprovação e as informações de alojamento foram os da Toudai (imagino que, como eles devem ter muitos alunos extrangeiros, o processo acaba começando mais cedo). Eu e o Pedro (que também vai pro Tokyo Tech) recebemos a notificação do alojamento no mesmo dia, e vamos ficar no mesmo alojamento (em quartos separados).


Na Tokyo Tech, pelo que pude entender, nós não temos opção de escolha: eles lá fazem a seleção de quem vai para onde (não sei como isso é feito, mas provavelmente leva em consideração o tipo de bolsa, e eventuais recomendações do ministério da educação.)

O alojamento onde me reservaram um dormitório foi o Tokyo International Exchange Center, um alojamento da JASSO (Japanese Student Services Organization) que fica na Baía de Tokyo, na badalada ilha de Odaiba (para desespero dos nossos pobres bolsos haha). Fui alocado no dormitório B0919. No mapa abaixo, o ponto A marca o local do alojamento. (Para ver no Google Maps, digite "135-8630, Japão"; esse é o "CEP" de lá.)


Segundo as informações da universidade, o quarto possui 30m2, e vem mobiliado com cama, estante, escrivaninha, internet, ar condicionado, fogão, geladeira, telefone, interfone, máquina de lavar e secar; além de banheiro com chuveiro e banheira. O aluguel sai por ¥45000 (equivalente a, mais ou menos, R$ 900,00), mais despesas de água e luz. Ainda segundo as informações da universidade, o trajeto entre o TIEC e o campus do TokyoTech (em Ookayama, veja no mapa anterior) sai por ¥410 (~ R$ 8,00), o que daria um gasto semanal de aproximadamente 4100 ienes [80 reais] com transporte (16200 ienes [320 reais] mensal, sem contar saídas fora de rota e finais de semana) - mas acho que deve ter algum tipo de bilhete de estudante por lá: procurarei maiores informações e posto aqui depois.

Bom, por enquanto é só. Burocraticamente falando, preciso preencher os papéis do dormitório - enviados como anexo no email da universidade - e enviá-los de volta até dia 10 de fevereiro; com cópias do meu passaporte, do visto e da confirmação de aceitação da universidade, se possível. A confirmação ainda não chegou e eu preciso dela para tirar o visto no consulado, então não poderei mandar os dois últimos itens por enquanto.

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Deixo aqui como despedida desse post uma foto da nossa formatura do Koshukai, ontem a noite. Foi realmente uma experiência única.

一緒だったら、きっと晴れるよ!B2001! ;)

sábado, 8 de janeiro de 2011

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Koshukai

Bom, o koshukai apenas começou e já deu pra deixar ótimas impressões.
Não vou entrar em detalhes aqui sobre como ele é, porque acho que a surpresa é o elemento mais importante para apreciá-lo. Vou só falar em linhas gerais.

Primeiro, os senpais, 先輩 ("veteranos") - ex-bolsistas -, são extremamente prestativos e legais! No koshukai a gente conhece os futuros bolsistas (ou os que já têm bolsa e vão agora, ou os "ouvintes", interessados em saber mais sobre os processos seletivos que dão bolsas e sobre a vida de bolsista em geral), os chamados 'kouhais', 後輩 ("bixos"). Todos também são super legais, e aos poucos vamos nos conhecendo mais e mais com as atividades. Tem gente de todas as áreas possíveis: desde Engenharia até Moda; nas diversas modalidades de bolsa que são oferecidas (tem as bolsas das províncias - administradas pelos respectivos kenjinkais, confederados da Kenren -, as chamadas bolsas kenpi: kenpi ryuugaku e kenpi kenshuu; as bolsas da JICA; do MEXT; e da Nippon Zaidan), e com destino às várias províncias japonesas: de Hokkaido a Okinawa.

Os senpais apresentam os diversos aspectos da cultura japonesa, dão dicas de comportamento, de viagens; dividem experiências que tiveram por lá e organizam uma série de atividades de integração para irmos nos conhecendo mais - afinal, seremos um grupo quando estivermos no Japão. :)

Bom, essas foram minhas primeiras impressões. Amanhã teremos uma saideira (飲み会, nomikai) de sexta-feira ao melhor estilo nipônico: virando a noite num karaokê! Banzai!!

domingo, 2 de janeiro de 2011

Começando...

Olá! =)

Bom, para quem não me conhece, me chamo Bruno; sou químico (com mestrado em Engenharia Química) e resolvi escrever esse blog, por sugestão de amigos e parentes, para documentar minha viagem de estudos pro Japão. Pra resumir a história, fui aprovado num processo seletivo do ministério da educação do Japão (MEXT, 文部科学省) e fui contemplado com uma bolsa de estudos pra fazer meu doutorado por lá (via consulado geral em São Paulo), e pretendo relatar aqui as experiências de morar e estudar na terra do sol nascente.

Vou começar explicando um pouco do processo dessa bolsa que consegui. Ele consiste, basicamente, de 7 etapas:

1. Inscrição
2. Prova de idiomas
3. Entrevista
4. Aprovação pela banca do consulado
5. Aceitação do professor-orientador
6. Aprovação pelo MEXT
7. Aprovação pela universidade

No meu caso, fiquei sabendo da abertura do processo seletivo através de um cartaz que vi na minha escola de Japonês (Aliança Cultural Brasil-Japão, que recomendo fortemente), de conversas com meu amigo de lá (Hey, Paulo-san!), e do email institucional que nós alunos da USP recebemos semanalmente com novidades sobre bolsas de intercâmbio.

Para se inscrever é necessário preparar um projeto de pesquisa (cujo nome mais apropriado, a meu ver, seria "proposta de trabalho") que verse sobre um tema relevante que justifique ser estudado no Japão e que traga resultados importantes para ambos países. No meu caso, preparei um projeto que mescla o assunto do meu doutorado daqui do Brasil com um tema atual que julgo ser importante para futuros avanços na linha de pesquisa que venho seguindo (disponível aqui, para quem tiver curiosidade) e que tem sido desenvolvido por pesquisadores japoneses.

Depois vêm as provas de Japonês e Inglês (e aí vale a maior nota, okagesamade!). Se não me engano, tirei 98% na de Inglês e 10% (oops!) na de Japonês (obs.: a meu favor, tenho a dizer que estava fazendo ainda o primeiro módulo do básico! Depois de seis meses, fiz outra prova no consulado e consegui 58%! =D). No meu ano (2011) haviam 14 vagas, e chamaram 34 pessoas pra entrevista (dos 172 concorrentes).

A entrevista é meio tensa. Há uma banca com cerca de oito professores universitários de diversas áreas do conhecimento e universidades, com toda sua documentação e seu projeto em mãos, sentados em mesas dispostas num semi-círculo. O candidato se senta no meio, onde pode ser avaliado pelos professores e mais dois assistentes que observam atenciosamente sua postura.

Passada essa etapa tensa, os 17 (14 + 3 suplentes) aprovados pela banca examinadora têm a não menos tensa missão de conseguir cartas de aceitação de professores-orientadores de universidades japonesas, em um mês! Se o candidato já conhecer alguém, é mais fácil. Senão, tem que penar! O ideal são três cartas de aceitação de universidades diferentes, que o candidato lista em ordem de preferência - mas isso é consideravelmente raro de acontecer (pelo que conversei com meus colegas). Eu consegui aceitação de um professor do Tokyo Tech, (Instituto de Tecnologia de Tokyo, 東京工業大学), meu futuro orientador, e de um professor da Oosaka Prefecture University (大阪府大学). Tentei com um professor da Universidade de Kyoto, mas não obtive resposta.

A aprovação pelo MEXT sai por volta de novembro, e lá para janeiro já se tem o resultado da Universidade. Meu orientador da Tokyo Tech já me informou por email que está tudo acertado por lá. =)

Como vou fazer doutorado por lá, preciso de mais algumas coisinhas adicionais; uma delas é fazer um TOEFL-iBT (Test of English as a Foreign Language, internet Based Test), OU um TOEIC (Test of English for International Communication), que é o que devo fazer - mais barato, mais perto e menos trabalhoso. Mas isso é requisito da Tokyo Tech, não tem nada a ver com a bolsa do MEXT.

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Amanhã (hoje, na verdade) começa o Koshukai - um curso intensivo promovido pela ASEBEX (Associação Brasileira de Ex-Bolsistas no Japão) que visa preparar os futuros bolsistas para a vida nipônica. Ouvi ótimas recomendações, e acho que preciso de um desses. Além dos benefícios informativos óbvios, ainda parece ser uma ótima chance de conhecer o pessoal que vai para lá, os brasileiros com quem provavelmente terei mais contato e os possíveis companheiros de desbravamento de terras estranhas. =)